Adolescência

Automutilação, um problema ou modismo?

A conduta que até então era considerada um grave distúrbio psiquiátrico, passou a ser moda entre os adolescentes, que muitas vezes competem entre si o limiar da dor, confundindo desta forma o diagnóstico.  A dor psíquica pode corresponder  os estados que provocam intensa angústia. Mas o que é angústia?

Angústia é um sentimento cuja sensação é o vazio interno, a falta de palavras, representação e significado. É um estado de desamparo psíquico, podendo ser comparado ao terror sem nome, como um bebê que sente dor, sem saber o que está sentindo e chora para comunicar seu desconforto sem receber amparo. A impossibilidade do adolescente  lidar com este turbilhão de estados e sentimentos, seja por falta de recursos internos ou habilidades, faz com que adote a conduta da automutilação. É uma  tentativa de diminuir a angústia, pois perante a dor física,  o cérebro produz endorfinas com objetivo de aliviá-la.  Esse alívio da dor física, também reflete na sensação de diminuição da angústia. Esta conduta torna-se um ciclo vicioso, pois toda vez em que a  pessoa depara-se com estados psíquicos intoleráveis, como por exemplo, a tristeza profunda,  recorre a automutilação, para sentir o alívio produzido pelo cérebro perante a liberação da endorfina.

O perfil do adolescente automutilador, inclui características relacionadas a introspecção, instabilidade afetiva,  retraimento e o distanciamento social/ familiar. São pessoas que apresentam dificuldade para falar sobre seus sentimentos. Na internet existem grupos de adolescentes praticantes da automutilação que encontram apoio, bem como um espaço para falar sobre o assunto,  já que trata-se de uma conduta reprovada pela família e sociedade. Geralmente  adolescentes escondem da família esta prática. Devido ao sentimento de vergonha, inadequação e reprovação raramente pedem ajuda.

Em alguns casos a automutilação encerra por si seu ciclo e aos poucos a pessoa deixa de praticá-la, porém, existe a forte tendência da conduta ser agravada. O tratamento consiste no apoio da família, através de afeto, confiança e segurança. O diálogo é importante, porém, nesta fase ( adolescência ), a postura mais reservada perante a família é normal. Acompanhamento médico, medicação e psicoterapia, são recursos essenciais. É importante sempre salientar que a medicação deve ser avaliada, prescrita e acompanhada pelo médico psiquiatra.

O acompanhamento psicológico é de extrema importância, pois é o espaço em que o adolescente é acolhido e autorizado a falar sobre suas angústias de forma segura, sem julgamentos ou críticas. As intervenções consistem no acolhimento, formação de vínculo seguro, escuta, empatia, esclarecimento, orientação, treinamento de habilidades para tolerar sentimentos como a angústia, tristeza, raiva, culpa e frustração. O trabalho inclui a família que muitas vezes também é encaminhada para acompanhamento através da orientação familiar.

Deixe um comentário